quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A pipa

Era uma pipa com um desenho bem simples: um retângulo na parte superior e um triângulo equilátero na parte inferior. Tem gente que incrementa, que faz coisas diferentes na pipa, mas esta não era assim: como mencionei antes, era bem simples, vermelha na parte do retângulo e amarela na parte do triângulo. E uma cauda bem comprida, feita de sacos plásticos, desses de supermercado, recortados em tiras.
Fazia já um tempo que estava no céu, bem alto, muito alto mesmo. Tenho certeza de que a pessoa que estava empinando aquela pipa estava fazendo outras, que passavam por ela, olharem para o céu. De vez em quando a gente precisa olhar para o céu, reaprender a se encantar com coisas simples e, talvez por isso mesmo, tão especiais e essenciais.
E o céu estava bem azul, sem uma nuvem sequer.Não me lembro de ter visto, alguma vez, um céu como aquele, sem nenhuma nuvem.
Quando vi aquilo, lembrei-me de muita coisa. Lembrei-me do que me ensinaram na escola, de que um certo cidadão (o senhor Benjamin Franklin) quase levou um choque por ter empinado uma pipa, no meio de uma tempestade elétrica cheia de relâmpagos, com uma chave amarrada no cordão. Lembrei-me da estória de uma ponte que foi construída com a ajuda de uma criança - ela empinou uma pipa e ajudou a transportar um cabo guia de um lado ao outro de um rio com corredeiras muito fortes. Lembrei-me de quando eu mesmo, quando pequeno (eu ainda sou pequeno, dependendo do ponto de vista - apenas um pouco menos pequeno do que antes), procurava um lugar livre e tentava empinar pipa. Na maioria das vezes eu não conseguia, a pipa não ia muito alto como eu gostaria, ou eu ficava de frente para o sol e ele feria meus olhos, mas quando ela ia alto e o sol não atrapalhava tanto, ah, eu achava aquilo muito lindo. 
Talvez empinar pipa seja uma forma simples e barata de o cidadão comum fazer o seu pensamento voar - pelo menos aqueles que se permitem fazer o seu pensamento voar.

*****

Eu estava olhando pela janela do apartamento onde moro quando vi a pipa. Estava no meu quarto, fazendo contas. Fui demitido no dia anterior, e já estava fazendo contas: será que o dinheiro da indenização vai dar pra pelo menos sustentar a mim e a minha esposa por, pelo menos, três meses? Esse era o tempo que eu esperava que o dinheiro desse, o tempo de eu conseguir encontrar outro emprego ou outro trabalho.
Muito bem, eu estava fazendo essas contas quando olhei pela janela. E dei de cara com a pipa. A pipa ficou bem no centro da minha janela, aquela manchinha vermelha e laranja com um fiapo verde descendo, em um fundo azul. Levantei-me da cadeira onde eu estava sentado, aproximei-me da janela e fiquei ali, olhando o ir e vir daquela pipa.
Sim, eu moro em um apartamento bem alto. Praticamente no topo de um prédio de trinta e dois andares.
Não me lembro de quanto tempo eu fiquei olhando aquela pipa, mas depois de vê-la, tomei uma decisão. Não vou mais trabalhar de empregado de seu ninguém, a não ser que me remunerem muito bem. Em vez disso, vou trabalhar pra mim mesmo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Origem

Muito bem, este blog acabou de ser criado. Pra quem não me conhece (muita gente vai precisar desta introdução), meu nome é Jorge de Melo (aliás, este é o nome pelo qual peço que me chamem) e vou escrever algumas coisas, que passam pela minha cabeça, aqui.

(atualização feita em 16/8/12)
Não tenho pretensão nenhuma com o que estou escrevendo aqui. Talvez sirva para alguém, para alguma coisa. Isto aqui é mais um exercício de escrita do que qualquer outra coisa.